As grandes fazendas de café

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As primeiras fazendas abertas no Vale do Paraíba exigiram de seus fundadores muito esforço. O processo de implantação consistia na derrubada da mata, escolha do local da sede (de preferência perto de rios) e construção de um galpão provisório. A seguir formavam-se um pomar e hortas para o consumo próprio e plantava-se o café. As fazendas eram praticamente autárquicas.

Além da casa-sede, moradia da família do proprietário, as principais edificações que compunham, sob o aspecto operacional, uma “empresa” agrícola do café eram:

O lavador de café;

  • O(s) terreiro(s) para a sua secagem, de terra ou calçado;
  • O engenho para beneficiamento dos grãos (engenho de café);
  • As tulhas para armazenagem do café seco a ser beneficiado;
  • E, ainda, a senzala, que abrigava a escravaria, a mão-de-obra envolvida em todo o processo produtivo e que fazia funcionar, realmente, a empresa agrícola do café e, por isso, também considerada no conjunto das cinco edificações, diretamente ligada à “atividade fim” da fazenda.

Variando de acordo com o porte da fazenda —- em terras, produção e recursos financeiros e da sua capacidade e/ou interesse em ser, parcial ou totalmente, auto-suficiente — podiam existir ou não, em porte menor ou maior, outras edificações e áreas de trabalho vinculadas às “atividades meio” do empreendimento.

O conjunto de edificações, notadamente a casa-sede, a senzala, o engenho de café e a tulha, formavam usualmente um “quadrado funcional”, denominação dada à forma de implantação das mesmas no sítio natural, tendo o terreiro de café, ao centro, como referência. Esta disposição por vezes era modificada ou se ajustava ao porte da propriedade quando, por exemplo, existiam mais de um terreiro ou a topografia do sítio apresentava desníveis.

Os programas arquitetônicos que caracterizavam as plantas das casas-sede, prevalecendo como forma de expressão e dando sequencia a um padrão histórico — independente de a construção adotar um “estilo” arquitetônico mais conservador, trazido pelos paulistas ou pelos mineiros, ou mais requintado, influenciado pela linguagem do neoclássico, que impregnou o nosso século XIX — eram marcados pela preocupação de separar as dependências em blocos distintos, refletindo, na organização de seus ambientes, as regras e normas sociais vigentes. Em um bloco eram contemplados os espaços necessários à convivência social da família, especialmente visando “proteger” a intimidade das mulheres da casa, onde se localizavam os quartos de dormir, as salas de refeição, jantar e almoço, e as dependências de serviços, como a cozinha. No outro bloco ficavam as dependências de recepção dos hóspedes e dos visitantes que vinham tratar de negócios, com suas salas e alcovas separadas da área familiar por ambientes cujas portas eram mantidas sempre fechadas. Com o passar do tempo e as mudanças na dinâmica social ocorrida nas últimas décadas do XIX, o isolamento dos membros da família — em especial das mulheres — foi-se atenuando e as soluções internas foram eliminando as dependências que possuíam a função básica de “separar” os blocos, dando mais leveza e funcionalidade às plantas das casas rurais.

PIRES, Fernando Tasso Fragoso:

Antigas fazendas de café da província Fluminense. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Fazendas: solares da região cafeeira do Brasil imperial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

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